
Sinopse
A magia está acabando na província de Esfix. Porém, segredos antigos podem relevar a solução para o problema. Ágata, uma simples pocionista de Déria, recebeu um misterioso chamado, uma voz em sua mente dizendo de que ela devia ir até Córvia, a cidade mais antiga de Esfix. Em meio aos escombros e ruínas corvianas, Ágata encontrará uma forma de restaurar todo o poder mágico de Esfix. Só que tudo vem com um preço, e talvez esse seja alto demais.
Filha das Sombras – Parte 1
What will it take to make you capitulate?
We appreciate power
We Appreciate Power – Grimes, HANA
O colar em meu peito brilhava em cores diferentes dependendo da luz. Quando o caldeirão de poções de cura fervilhava um musgo líquido, levemente viscoso, meu rosto se iluminava em um estranho tom de verde.
Sempre gostei de observar como uma pedra tão inútil — achada à beira de um dos rios do bosque — pudesse apresentar tantas variações.
Além da minha admiração passageira, nunca prestei atenção no que as cores pudessem significar. Algumas das estudiosas de Déria se dedicavam a isso, mas não era esse o meu objeto de investigação. O meu verdadeiro interesse era um segredo para todos, exceto para o meu coração.
Nunca dei muita importância para a pedra, até que, em uma noite escura, sem outra fonte de luz, o colar refletiu um tom de roxo, igual a uma tulipa solitária no campo sombrio. Como a pedra poderia espelhar uma luz que não estava ali? O medo fez com que meus olhos encontrassem dificuldade para se fecharem. Neste dia, eu não consegui dormir.
Quando finalmente tive coragem de fechar os olhos, escutei uma voz distante me chamando. Não sei dizer se a voz era real ou um mero fruto da minha imaginação. Talvez eu estivesse recebendo a visita de algum deus — mas os deuses não existiam mais, já haviam sido esquecidos há séculos. Outra possibilidade, provavelmente a mais correta, era o meu desejo de sair de Déria — e poder estudar o que eu tanto desejava.
Eu queria, mais do que tudo, explorar os vestígios da civilização que, um dia, abrigou o maior povoado mágico da província. Mesmo sendo uma deriana, filha do povo que estuda a natureza, eu queria ter a mágica do povo de Ázio. Aquela que ainda restava, mesmo sendo tão pouca.
— Venha para Córvia. Seu destino está aqui, Ágata. Você aceita o chamado? — a voz distante perguntou, trazendo-me de volta ao estranho e assustador momento. Suas palavras escorreram pelos meus ouvidos como minha poção verde pegajosa. Era impossível ignorá-la. Logo, logo, deixaria uma marca na superfície.
— Você aceita o chamado? — a voz insistiu. Parecia impaciente, como se eu fosse mais uma em uma longa fila de corações desejosos.
Segurei o colar brilhante, observando o roxo tomar conta do meu quarto através das frestas deixadas pelos espaços entre meus dedos.
— Aceito — respondi, mais para mim mesma do que para a voz. Não acreditava que realmente houvesse alguém ali. — Eu aceito o chamado.
***
— Você não pode ir embora! — Liana implorava, levando a mãozinha até o nariz para secar o catarro que embolava em sua garganta, impedindo que suas palavras saíssem completamente.
— Eu sei, minha querida. Vou sentir saudades também, mas preciso ir. — Tentei persuadi-la, usando todo o meu charme apaziguador de irmã mais velha.
Liana fungou o nariz e correu para me abraçar. Fechei os olhos, aproveitando todo o calor, todo o amor fraternal que emanava dela. Liana era grande parte da minha vida, talvez a melhor parte dela. Eu a ensinava sobre plantas e poções, levava-a para caçar animais pequenos no bosque de Déria e, mais importante, sempre a fazia rir.
Ela gostava de caçar com arco e flecha, então, sempre praticávamos juntas. Qualquer um podia perceber que, com apenas sete anos, Liana já havia escolhido sua arma. A minha era uma adaga, simples, porém mortal. Nós, guerreiros derianos, éramos conhecidos por envenenar nossas lâminas. Mas não Liana. Ela apreciava a beleza da concentração, de um tiro limpo e bem calculado.
Por essa razão, eu esperei que ela reagisse com mais firmeza. Talvez eu apenas estivesse esperando demais de uma criança. Não me culpava tanto por isso. Eu havia sido criada dessa forma: os derianos estudam a botânica, mas nunca criam raízes. Estão dispostos a ir para onde o vento leva — como uma semente perdida em um vendaval.
Para a tristeza de Liana, eu estava pronta para voar.
— Volto logo, prometo.
— Promete mesmo? — ela perguntou com a voz fanha.
— Prometo sim.
Essa foi a primeira vez que menti para Liana. Não podia fazer essa promessa. Para ela e para todo o resto da minha família, eu estava indo para Glóriam, a capital da província, para visitar a biblioteca real — e aprimorar meus conhecimentos de pocionista.
Não estava.
Eu aceitara o chamado. Córvia era o meu destino, a cidade de ruínas mágicas.

Informações:
- Este conto faz parte da quarta edição do projeto “Em um mês, um conto“.
- Capa e ilustrações por Bruno de Souza.
Eu adorei!!!
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Paloma sempre incrível! Muito instigante, adorei a construção do mundo, estou curioso pra descobrir mais sobre Córvia.
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Bah! Muito bom, bem teu estilo. Personagens femininas marcantes e fortes.
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AH MAS COMO EU TAVA ANSIOSA PARA LER ESTE CONTO.
Eu achei fantástica a proposta do conto com a Ágata sendo chamada para seu destino. Já estou extremamente curiosa para ler o resto e descobrir mais sobre a missão em Córvia
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Adorei! Me identifiquei muito, e até pensei na minha personagem, que tem uma irmã caçula também. O que será que a espera em Córvia?
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Gostei muito, ansioso para conhecer mais sobre esse mundo e esses personagens. Parabéns!
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Acabei de ler, semana cheiiiia.
Curti muito como fez a introdução do mundo, bem parecido com um prólogo de contos clássicos.
Senti bem imerso.
O texto é interessante, achei que seria um pouquinho mais dark pela capa.
Mas, oq achei mais fantástico é que parece que será um monomito (ou jornada do herói)!
Em um conto!
Rapaz, surpreendente. Em 8 páginas???? Estou louco para ver como isso vai dar, vai ser um desafio e tanto.
Parabéns, Paloma, mais uma vez me deixou intrigado.
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Muito bom o texto, dando apenas as informações necessárias ao entendimento da história, prende nossa atenção do começo ao fim!!! Curioso com as próximas partes!!!
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Excelente início, Paloma. Parabéns. Personagem narradora muito bem trabalhada nesta primeira parte. Esse chamado é bem intrigante. O que espera nossa heroína em Córvia? Criei também algumas espectativas sobre a irmanzinha Liana. Concordo com o chefe Luca, será um bom desafio as 8 páginas.
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Gostei bastante do teu texto, a história é instigante e nos faz imaginar mil possibilidades. Ansiosa pela continuação!
Parabéns!!!
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Parabéns pelo texto! Espero conhecer mais da personagem principal.
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Como sempre arrasando. Vc foi direta, mas com as pincelas sobre o universo criado, consegui me senti imersa nesse mundo. A cada linha a sentimento de quero mais crescia. E nada como uma mentira para fazer o leitor querer mais e mais da história. Ansiosa pela segunda parte!
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Adorei a primeira parte do seu conto, ansiosa pela segunda, bjs!
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Republicou isso em Cosmopolitan Girl.
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Oi se não se importa, re-bloguei no meu blog para os meus seguidores também lerem
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Mais um conto sensacional está por vir, tenho certeza. Já tinha ficado empolgada com a arte e fico impressionada com o quanto você consegue envolver na leitura e no universo em tão poucas linhas. Ansiosa pela continuação!
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Narrativa muito bem construída. Prende o leitor aos poucos e quando termina o texto ficamos com aquele: mas já? Esperando a segunda parte.
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